20 de maio de 2010

“Meu nome é Adson, tenho 17 anos, não estou morrendo, não vou morrer e não QUERO morrer!”

100 PRATOS, 100 HISTÓRIAS...UM SONHO QUE SE SONHA JUNTO, UMA REALIDADE TRANSFORMADA. DOS “MENINOS” E “MENINAS”? NÃO! A MINHA, A SUA, A DE QUEM SE ENVOLVE PORQUE ACREDITA...

Difícil não se apaixonar pela ideia. Pelo projeto, é mais que paixão, é crença, é confiança (sobretudo em quem o elaborou...uma sonhadora! Uma eterna gestante! Uma parideira!)

Entrei nessa com a convicção de que faria mais uma vez aquilo que julgo saber fazer bem, ou seja, “ensinar a escrever algumas coisinhas”. Ledo engano, delicioso engano, afinal, foi amor à primeira vista por aqueles meninos e meninas cujos olhares, primeiro curiosos, depois ansiosos, e agora cúmplices, me cativaram e me fazem, neste mesmo instante, pensar como seguir quando meu espaço/tempo se esgotar com eles.

Entrei na sala, formamos nosso bom e combinado grupo de “parceiros”, conversamos sobre muitas coisas no primeiro encontro, por exemplo, sobre Clarice Lispector, e sobre “Perdoando Deus”...entendemos algumas coisinhas sobre a vida, a dura vida e a vida dura que muitas vezes nos é imposta. Dividimos opiniões, também ouvimos algumas coisas que fazem pensar:

“Quando fazemos o que gostamos, estamos sempre de férias...” (Ianca)

“ Somos o que fazemos e não o que falamos...” (Camila)

No segundo encontro, ainda mais esperado (-e desejado, confesso!), mais algumas “visitas” como Guimarães Rosa e Jorge Luis Borges, com Instantes. E justo nesse momento, em que tentávamos entender que o futuro é HOJE, e que o instante é AGORA, e que precisamos agarrar com todas as forças as OPORTUNIDADES para escrevermos uma história diferente, os olhares foram se transformando em palavras e as palavras se convertendo em convicção e a convicção em uma frase que, quase como uma orquestra, se repetia entre os “meninos e meninas”, emocionando a todos e a cada um.

O poeta, em seu poema Instantes, nos traz a seguinte reflexão:

“Se eu pudesse viver novamente a minha vida,

na próxima trataria de cometer mais erros.

Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.

Seria mais tolo ainda do que tenho sido;

na verdade, bem poucas pessoas levariam a sério.

Seria menos higiênico. Correria mais riscos,

viajaria mais, contemplaria mais entardeceres,

subiria mais montanhas, nadaria mais rios.

Iria a mais lugares onde nunca fui,

tomaria mais sorvete e menos lentilha,

teria mais problemas reais e menos imaginários.

Eu fui uma dessas pessoas que viveu

sensata e produtivamente cada minuto da sua vida.

Claro que tive momentos de alegria.

Mas, se pudesse voltar a viver,

trataria de ter somente bons momentos.

Porque, se não sabem, disso é feito a vida:

só de momentos - não percas o agora.

Eu era um desses que nunca ia a parte alguma

sem um termômetro, uma bolsa de água quente,

um guarda-chuva e um pára-quedas;

se voltasse a viver, viajaria mais leve.

Se eu pudesse voltar a viver,

começaria a andar descalço no começo da primavera

e continuaria assim até o fim do outono.

Daria mais voltas na minha rua,

contemplaria mais amanheceres

e brincaria com mais crianças,

se tivesse outra vez uma vida pela frente.

Mas, já viram, tenho 85 anos

e sei que estou morrendo.”

Eu pedi, então, que os nossos alunos finalizassem de um modo pessoal o poema, ratificando ou refutando a afirmação de Jorge Luis Borges. Então, o inesperado ocorreu:

Adson, alguém por quem me considero literalmente apaixonada pela história que traz, declarou:

“Meu nome é Adson, tenho 17 anos, não estou morrendo, não vou morrer e não QUERO morrer!”

A iniciativa dele se repetiu um a um, terminando em mim, que declarei meus 47 anos e meu desejo de ter a mesma pulsão de vida que aquele “garoto” demonstrou ter naquele momento.

Então me pergunto: para que mais palavras diante da grandeza dessa declaração? Apenas, vivamos!

Milena Spacek da Fonseca

Uma colaboradora agradecida pela oportunidade e pelo privilégio de crescer...mais um pouquinho.

2 comentários:

  1. Ficou boa mas eu fiquei de costas na fto ;P

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  2. Imensurável o que aprendemos com estas crianças. No pouco contato que tive com elas dias atrás, renovou em mim o desejo de ser mais do que sou, de fazer mais, enfim, de assim como o Adson, acreditar que a VIDA é muito mais do que o simples fato de respirar.

    "Nunca deixe que lhe digam:
    Que não vale a pena
    Acreditar no sonho que se tem
    Ou que seus planos
    Nunca vão dar certo
    Ou que você nunca
    Vai ser alguém..." Renato Russo

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